Sustentabilidade & Exploração

Bom dia, pessoal.

Recentemente, li uma matéria que mostrava que povos indígenas vivem na floresta amazônica há cinco mil anos e nunca tentaram destruí-la! Isso me parece óbvio, porque há uma clara diferença de percepção entre os povos a respeito do que é responsável por sua sobrevivência. Os povos indígenas vivem perto da floresta. Eles percebem a todo o momento que sua vida é depende da floresta, que, portanto é, para eles, uma grande fonte de riqueza e precisa ser preservada. Desta forma, é natural que povos indígenas tenham uma visão sustentável e um grande impulso de preservação.

Diferente dos povos indígenas, nós perdemos o contato com a natureza e passamos a habitar cidades, onde aquilo que nos sustenta está em supermercados e em lojas, não na floresta. Para conseguir esses produtos, precisamos trocá-los por dinheiro e esse então é visto como a riqueza a ser conquistada. Nós simplesmente não conseguimos perceber que somos tão dependentes da floresta como os índios.

Não acho que, potencialmente, o índio é um ser de moralidade ou inteligência superior à da chamada civilização. Acho que a diferença realmente está na percepção do que é riqueza, e essa diferença determina um pensamento sustentável ou um pensamento explorador. 

Os maiores problemas da civilização ocidental, a nossa, têm origem na vontade de transformar qualquer coisa em dinheiro e de acumular essa riqueza. Vamos imaginar uma pessoa vivendo de forma isolada, e vamos supor que a única coisa que essa pessoa tem é uma vaquinha, que dá o leite que pode ser a diferença entre viver e morrer. Essa pessoa não vai maltratar sua vaquinha e, menos ainda, transformá-la em churrasco. A sua riqueza é essa vaquinha, viva e saudável. Vender sua vaquinha pode lhe dar dinheiro, mas não o leite que vai sustentar sua vida.

Muitos dirão que, com dinheiro, essa pessoa poderia comprar duas vaquinhas. Essa tese, inicialmente, podia até ser válida, porque a quantidade de recursos era muito maior. Entretanto, o aumento exponencial de pessoas com esse pensamento simplesmente está gerando uma situação em que há dinheiro demais e vaquinhas de menos no mundo. Resumindo, a maior diferença que vejo entre a mentalidade dos povos indígenas e a nossa é que eles reconhecem que precisam da floresta para sobreviver e nós seguimos cegamente a tese inicial de que podemos sobreviver apenas com dinheiro. 

Talvez a maior sabedoria do índio seja a de ver a realidade da vida, enquanto que nós nos escondemos dessa realidade e achamos que podemos modificá-la a qualquer momento.

Tenham todos uma ótima semana!

Os Romanov

Bom dia, pessoal.

Às vezes, tendemos a achar que o que está longe, seja no tempo, seja no espaço, é sempre melhor, mais puro e mais evoluído do que aquilo que temos ou que somos hoje. Nessas horas, é sempre bom ler livros como, por exemplo, O Romanov: 1613 – 1918, de Simon Sebag Montefiore.

Essa foi a família que governou a Rússia, como indica o título do livro, do século XVII ao século XX. Os Romanov chegaram ao poder através da esposa de Ivan, o Terrível. Entretanto, que ninguém se impressione com o epíteto dado ao czar Ivan. Na verdade, eu acho que a maioria dos czares Romanov poderiam compartilhar essa denominação do “Terrível”, porque eram extremamente sádicos e hedonistas para os padrões de hoje. Assusta pensar que, na época, aquele comportamento era visto como normal, como o simples caprichos de um governante.   

A verdade é que todas as sociedades humanas tiveram e têm seus problemas. Não canso de repetir que o ser humano não mudou e não evoluiu muito desde a pré-história. Seus defeitos e suas virtudes são constantes ao longo da história e isso é espelhado em suas ações. Temos a tendência a achar que tivemos azar ao nascer na época ou no lugar em que nascemos, mas essa opinião deriva do fato de que só conseguimos realmente assimilar o nosso presente. Se olhássemos para o passado e conseguíssemos imaginar a vida de um servo ou mesmo de um cortesão russo do século XVIII, por exemplo, poderíamos concluir que, na verdade, temos muita sorte.   

Não fiquem com a impressão de que o livro citado é muito pesado. Ele é bem interessante, apesar da enorme quantidade de personagens e da tendência russa a mudar o nome das pessoas ao longo de suas vida. É uma ótima dica para quem quer um panorama geral da dinastia Romanov, mas querendo mais detalhes de um determinado czar, principalmente dos mais famosos, existem biografias específicas no mercado.

Fica a dica e o desejo de que todos tenham uma ótima semana.

Outsider

Bom dia, pessoal!

Sempre que há um grande problema conosco ou à nossa volta, podemos tomar duas atitudes básicas: a primeira é pensar que, se nós somos parte do problema, também podemos ser parte da solução. Devemos entender nossa responsabilidade e trabalhar em conjunto com outros para que o problema seja resolvido e as coisas melhorem para todos.

Claro que também há a segunda atitude possível, e ela é bem mais cômoda e fácil. Fingimos não ter nada a ver com o problema e esperamos que surja um agente externo, o famoso outsider, que magicamente resolva a situação, nem que seja apenas para o meu grupo, que é o que interessa.

Os problemas atuais da humanidade são tão graves, porém, que não dá nem para imaginar um agente externo capaz de solucioná-los de forma global. Ainda que se pense em um retorno de Cristo, Maomé, Buda etc., não daria certo. Todos eles representam, hoje, alguma das tribos em que nos dividimos. A chegada de um atenderia a uma tribo, mas não eliminaria as diferenças com as demais, que logo começariam uma campanha negacionista. Ou seja, a humanidade não ficaria unida. A solução para esse cenário seria uma figura mais externa ainda, que não estivesse vinculada a nenhuma das tribos atuais.   

Todo este preâmbulo foi para perguntar se vocês já perceberam o aumento no número e na frequência de notícias e postagens sobre a possibilidade, maior que nunca, de um primeiro contato com extraterrestres. O que mais chama a atenção é que estas postagens não estão vindo dos grupos de sempre, mas de fontes ligadas à NASA, a governos de países como Inglaterra e Estados Unidos etc. É só fazer uma busca no google para perceber o fenômeno.   

Isso me parece uma tentativa  de buscar um agente externo que transforme a humanidade em um grande grupo, ao invés das tribos atuais. O problema é que, se isso for verdade, só mostra que continuamos a buscar soluções milagrosas, que não nos deem trabalho e que não exijam nossa participação. Se, por outro lado, estamos mesmo próximos de um primeiro contato, tudo o que me resta dizer é: Vida longa e próspera!   

Tenham todos uma ótima semana.

Equilíbrio

Bom dia, pessoal.   

A gente sempre tem esperança de que a sociedade se transforme em um sistema mais justo. Entretanto, cá entre nós, essa é a mesma esperança que tínhamos na infância, quando aguardávamos ansiosamente pela chegada de Papai Noel. Como é que queremos uma sociedade mais justa e equilibrada se as regras que nós mesmos criamos dependem da injustiça e do desequilíbrio? 

Desde cedo, todos somos ensinados sobre a importância de vencer, que essa é a forma de ter sucesso na vida e realizar-se plenamente. A questão é, justamente, o significado de vencer. Esta é uma palavra comparativa e que só faz sentido se houver perdedores. Vencer, ainda que com mérito e lisura, implica deixar todos os outros para trás, implica destacar-se do conjunto. Vencer só é entendido se for de forma completa e individual. Duas pessoas empatadas em primeiro lugar significa que não houve realmente um vencedor.

Por outro lado, ninguém é ensinado a perder. Perder é coisa de fracassado e, portanto, não é aceitável e, sendo mal tolerado, pede por revanche. Dá para perceber porque  a sociedade não é sustentável? Se só pode haver um vencedor, o número de “perdedores” será sempre muito grande, o que significa que sempre haverá muito mais gente frustrada que realizada. Essa sociedade simplesmente não tem como ser equilibrada.   

Quando falo sobre vencer, não me restrinjo ao âmbito esportivo, mas também ao aluno, ao profissional, ao artista etc. Tudo em nossa sociedade é voltado para a competição e não para a colaboração. Lembro de uma canção do Abba cujo título fala muito da mentalidade de nossa sociedade: The winner takes it all (O vencedor leva tudo).

Nesse sentido, lembrando também que todos os recursos materiais deste mundo são finitos, para alguém (o vencedor) ter muito de algo, sempre será necessário que muitos (os perdedores) tenham pouco dessa coisa. Ainda assim, ter muito de algo é considerado por nós como um sinal de sucesso, e não como um desequilíbrio do sistema. 

Claro que não sou contra a relevância do mérito e do esforço. Não tenho nada contra a graduação baseada neste critérios. Considero, porém, que a existência de extremos jamais permitirá o equilíbrio do sistema, nem com a ajuda e boa vontade de Papai Noel!

Uma ótima semana a todos!

Etimologia: Sinistro

Bom dia, pessoal.

Consigo identificar o momento em que descobri um novo significado para uma velha palavra. Ocorreu por conta de uma conversa entre uma pessoa mais jovem e mim. Eu dizia que não gostava de filmes de terror, porque eles eram sinistros demais. Aí, meu interlocutor olha para mim e diz que não entendeu se eu gostava ou não desse tipo de filme. O papo segue mais ou menos assim:   

– Eu disse que não gosto de filmes de terror. 
– Mas você disse que eles são sinistros.   
– Sim, por isso não gosto deles!   
– Mas como podem ser sinistros e você não gostar? 

Bem, a essa altura, as pessoas ao redor já estavam rindo e finalmente uma alma caridosa me explicou que, na gíria de então, “sinistro” era uma qualidade positiva, algo muito bom! Até hoje, não consegui me acostumar com esse uso (nem eu, nem os dicionários) e, por isso, resolvi dar uma olhada na etimologia desse vocábulo.

A palavra ‘sinistro’ vem do latim sinister e, originalmente significa tão somente esquerdo. Uma pessoa sinistra é apenas uma pessoa canhota.  Se pensarmos que a maioria da população mundial sempre foi formada por pessoas destras, é lógico supor que produtos industrializados, ferramentas etc. são, em geral, feitos para serem manipulados por essas pessoas, e os canhotos acabam tendo mais dificuldade e menos “habilidade” em utilizá-los. Acho de daí vem a tendência de o termo sinistro atrair uma carga mais negativa de significados, chegando mesmo a ser usado para coisas apavorantes. Por outro lado, o lado direito, destro, ficou com significados mais positivos. De onde vocês imaginam que vem a oposição de termos como canhestro e destreza?  

Reinaldo Pimenta, em seu livro A casa da mãe Joana 2, conta que, na Roma Antiga, os adivinhos interpretavam os presságios (os auspícios) com a face voltada para o sul, com o oriente à esquerda. Os gregos, por sua vez, faziam o mesmo com a face voltada para o norte, com o oriente à direita. Com isso, os presságios, geralmente definidos pelos voos dos pássaros, que vinham do lado esquerdo eram interpretados ora como bons, ora como maus. Desta curiosidade talvez venha a possibilidade de a palavra sinistro poder significar tanto algo bom como algo ruim.

Outra coisa interessante que nos é lembrada no mesmo livro é que ambidestro é a designação usada para as pessoas que têm “duas mãos direitas”, o que, além de tudo, pode ser considerado preconceituoso nesta época do politicamente correto.

É realmente surpreendente como o estudo etimológico de uma palavra tão pequena pode nos trazer tantas histórias. Espero que todos tenham uma ótima semana!

Direitos & Deveres

Bom dia, pessoal!

Há algum tempo, eu tenho por meta anual ler um romance russo, e este foi o ano de Anna Karenina de Liev Tolstói. Muitas vezes, encontro reflexões em um livro em trechos que nada tem a ver com a história principal e, desta vez, não foi diferente.

Lembrando que este é um livro da segunda metade do século XIX e, para contextualizar, alguns personagens masculinos estão discutindo sobre a exigência, por parte das mulheres, do direito ao voto. Um dos interlocutores argumenta, então, que votar não é um direito, mas um dever. Dessa forma, as mulheres não estariam pedindo por direitos mas estariam pedindo para assumir mais deveres. 

Fiquei pensando se o argumento é tão absurdo assim. Quantos deveres, ao longo do tempo, não passamos a ver como direitos e quais foram as consequências dessa transformação? O dever é uma atitude ativa, que exige protagonismo de um sujeito, que está bem determinado. Assim, você ter o dever de fazer algo significa que a responsabilidade pela ação e por sua qualidade são suas e por elas você poderá ser cobrado. No entanto, ao transformar esse mesmo dever em direito, tanto o sujeito como sua responsabilidade passam a um segundo plano. Por exemplo, a sociedade estabeleceu há muito tempo que é dever dos mais jovens honrar e respeitar os mais velhos; esse dever tinha, portanto, um agente claro. Entretanto, se passamos a dizer que os idosos têm o direito de serem honrados e tratados com respeito, o agente some e não vai se sentir cobrado. 

Gramaticalmente, é muito fácil para o agente da passiva se esconder da ação e, na prática, não se sentir responsável. Neste caso, é inevitável que ocorra um jogo de transferência de responsabilidades. Quantos deveres desse tipo não trocamos por direitos ao longo do tempo? Não será por isso que, hoje em dia, só se fala em direitos e os deveres são ignorados?   

Ok, viajei na maionese com Anna Karenina, mas essa é uma das possibilidades mais bacanas da literatura. Por isso que há muito mais do que a ação em um clássico e por isso ele se apresenta de forma diferente a cada leitura.

Tenham todos uma ótima semana!

Dinacharya

Bom dia, pessoal!

Ultimamente, eu tenho gostado muito de aprender sobre ayurveda, a medicina tradicional indiana. Dentro desta medicina, encontra-se uma série de prescrições, conceitos e rotinas que são muito antigos (milhares de anos), mas que fazem muito sentido para mim. Uma rotina que eu acho muito interessante é chamada dinacharya, que fala das atividades diárias matinais que objetivam fazer você começar o dia de forma consciente, o que trará uma atitude ativa sobre seu dia.

Apesar de ser apenas uma aprendiz informal dessa linha, percebi que é importante notar, logo pela manhã, como você se sente, observar seu corpo e seu estado de espírito. Será que você presta atenção a esse detalhe, aparentemente insignificante, mas que determina uma pré-disposição para o dia? Por exemplo, meu estado de espírito durante o dia é totalmente diferente se eu acordo com o canto dos passarinhos ou com o som de tiros (infeliz realidade do Rio de Janeiro). 

O exemplo dado tem origem em uma fonte externa, que eu não consigo controlar. Existem outras coisas, porém, que eu consigo controlar. Por exemplo, a primeira atividade do meu dia tem sido ir ao quintal trocar a água do meu cachorro. Claro que ele não fica parado, observando. Ele pula, ele quer atenção, ele quer carinho, ele quer brincar de bola e, de preferência, tudo isso ao mesmo tempo! Meu dia, portanto, costuma começar de maneira alegre e isso me predispõe ao otimismo. Só mais tarde é que eu vou pegar o celular e ver mensagens e notícias. Principalmente em relação às notícias desses dias, eu sei que a tendência é que não sejam boas e me deixem mais para baixo. Então, por que começar o dia por aí?   

Nosso estado de espírito é resultado, principalmente, daquilo que cultivamos, e o que cultivamos é, sim, escolha nossa. Ninguém nos conhece melhor que nós mesmos e ninguém é capaz de dizer o que precisamos para nos sentir bem. Por isso é que eu não gosto muito dos chamados livros de autoajuda. Eu brinco sempre que, nesse tipo de livro, o prefixo “auto” indica o próprio autor, cuja conta bancária está sendo ajudada! Para nós, pobres mortais, a autoajuda não está nos livros, mas em nós mesmos (daí o prefixo auto) e podemos nos ajudar através de perguntas simples: o que me ajudará a ser a pessoa que quero ser? O que me ajuda a começar bem o dia? A verdadeira autoajuda está em fazer-se essas perguntas, respondê-las e praticar as respostas, pelo menos naquilo que depende de nós.    

Nesse sentido, acho que posso dizer que a autoajuda tem exatamente o mesmo princípio do dinacharya: auto observação. Conhecer-se e saber o que te faz bem é o primeiro passo para traçar seu caminho para um dia melhor e, para isso, você não precisa de livros, mas de um diálogo com você.

Tenham todos uma ótima semana!

Linguagem Simbólica

Bom dia, pessoal.

Estou muito longe de ser especialista no assunto, mas me parece que a principal forma de integração do ser humano com o mundo e com a sociedade em que vive ocorre através da linguagem simbólica. Esse tipo de linguagem deu origem a mitos e a diversos tipos de cerimônias de iniciação, que ajudam uma pessoa a viver de forma mais harmoniosa e sem neuroses. Fora o fato de que, naturalmente, aprendemos a entender símbolos muito antes de aprendermos a ler. Na verdade, letras e números nada mais são que símbolos!

Um tipo de simbolismo que mostra a importância dessa linguagem, que ainda existe em nossos dias, mas que foi elevada, ou diminuída, à categoria de tradição é a nomeação de Reis e do próprio Papa. Esses papéis são exercidos por pessoas comuns: um senhor feudal qualquer ou um padre qualquer. Pessoas com gostos próprios, a quem interessa proteger e cuidar de um determinado grupo de pessoas. Ao assumir o papel de Rei ou Papa, porém, aquela pessoa comum deixa de existir, geralmente troca até de nome, e recebe uma majestade ou uma santidade que o transforma em outro ser, agora responsável pelo bem estar de todo um povo e não mais daquele pequeno grupo ao que se dedicava antes. E, através dessa linguagem simbólica, a pessoa compreende e interioriza seu novo papel.

Nos tempos modernos e principalmente no Ocidente “desenvolvido”, a linguagem simbólica é vista como retrógrada e está restrita a sonhos e a religiões sendo que, mesmo nessas, sempre existem correntes que tentam transformar o símbolo em fato histórico, como se o simbolismo precisasse de veracidade para ser digerido.

Acredito que a degeneração do simbolismo é uma das principais causas das atuais neuroses e falta de lideranças. Infelizmente, muitos acreditam que mitologia é sinal de infantilidade, elaborada para as mentes mais fracas. Por sinal, uma das coisas que me chamou muito a atenção no livro Cartas da prisão de Nelson Mandela foi ele falar da importância que teve, em sua vida, o rito de passagem executado na adolescência. Infelizmente, a importância desse tema é muito mal compreendida por nossa “avançada” civilização. Fazer o quê?

Fica, então, a reflexão e o desejo de uma ótima semana a todos!

Por que tem que haver um culpado?

Bom dia, pessoal.   

Assim como a água, temos a tendência de buscar sempre o caminho mais fácil. Ao contrário da água, porém, essa nossa tendência não se restringe apenas a aspectos físicos. Se encontramos qualquer tipo de dificuldade, antes sequer de pensar em como ultrapassá-la, temos a tendência de buscar um culpado por sua existência. De alguma forma, haver um culpado nos exime do esforço de buscar e implementar a solução e justifica nosso possível futuro fracasso. Pior ainda quando a existência do culpado ou responsável  nos desobriga até do esforço de tentar!

Isso não é novidade e não é sequer recente. Esse é um dos problemas da personalidade humana que não conseguimos resolver nos milhares de anos que habitamos este planeta. Daí porque não é nenhuma surpresa tomar conhecimento, por exemplo, da história de seis chineses que sobreviveram  ao naufrágio do Titanic, em 1912.   Chegando aos Estados Unidos após serem resgatados, eles foram imediatamente deportados porque estava em vigor a lei de exclusão dos chineses, promulgada em fins do século XIX. Essa lei  impedia a entrada de chineses nos Estados Unidos porque esse povo trabalharia por salários mais baixos e achataria a curva salarial da população dos Estados Unidos. Portanto, estava claro, os Chineses eram os culpados. Nenhum outro trabalhador, de nenhuma outra nacionalidade, teria o mesmo comportamento. Problema resolvido!

Hoje em dia, no meio da pandemia, os chineses voltam a ser apontados como os responsáveis por todos os problemas causados pelo corona vírus. Nos Estados Unidos, as agressões vão se tornando cada vez mais comuns e, como o ser humano é ser humano em qualquer lugar, essa onda de agressão tende a se espalhar mundo afora. Assim, a humanidade já encontrou um culpado, o que é muito mais importante que encontrar uma cura. Triste Humanidade!

Lembro que, quando comecei a trabalhar, havia um desenho engraçadinho que mostrava que a busca pelos culpados era uma importante etapa no desenvolvimento de um projeto. Na época, eu achava isso muito engraçado, mas a vida foi mostrando que isso não é piada, mas faz parte da nossa cultura. Perdemos uma quantidade imensa de energia, ao invés de direcioná-la para a solução dos problemas e isso não me parece fazer de nós a espécie inteligente que julgamos ser.

De qualquer forma, tenham todos uma ótima semana!

Minhas Flores de Maio

Bom dia, pessoal!

Uma das atividades que surgiram na minha vida por conta da pandemia foi a jardinagem. Assim que começou o isolamento e eu passei a ficar em casa quase o tempo todo, percebi que a jardinagem me ajudaria a cuidar da qualidade do ar e, ao mesmo tempo, seria uma forma saudável de atividade.

Ao adquirir uma planta, me preocupo em colocá-la em ambiente adequado para ela e, para isso, pesquiso um pouco para saber se ela quer sol ou sombra, qual é o melhor tipo de rega etc. Há algumas semanas, adquiri duas Flores de Maio, já em flor apesar de ser março! Segundo artigos que li, essas plantas não querem luz solar direta e a terra não deve ficar encharcada. Apesar de todos os cuidados, é comum que, após a queda das flores, a planta perca folhas e, se for um caso grave, chegue até a morrer. É como se o florescer fosse um parto difícil que pudesse causar a exaustão e morte da mãe.

O fato é que as flores murcharam e algumas folhas realmente caíram. Fiquei bastante preocupada, porque as plantas haviam sido replantadas em novos vasos e eu não sabia se elas já estavam adaptadas ao novo lar. Então, passados alguns dias, as folhas pararam de cair e, semanas depois ao abrir a janela, tive a felicidade de ver que novos segmentos estavam nascendo nas folhas.

Pode parecer pouco para deixar alguém feliz, mas no meio de um cenário tão ruim como o que vivemos, mesmo as pequenas alegrias precisam ser muito valorizadas. Estamos cercados por tantas notícias ruins, que precisamos estar cada vez mais atentos às coisas boas que existem à nossa volta e que podem passar desapercebidas. São essa pequenas coisas que podem nos ajudar a perceber que ainda temos momentos felizes a viver e muito pelo que agradecer. Isso pode fazer com que o clima não fique tão pesado e nos ajuda a ter uma atitude mais otimista nestes dias.

Jardinagem não estava nos meus planos de aposentadoria, mas foi uma atividade que a pandemia me trouxe, e é algo que está me dando muitos bons momentos. Esta também é uma atividade mais que artesanal e, portanto, é mais um dos caminhos do artesanato que eu encontrei!

Tenham todos uma ótima semana!