Bom dia, pessoal.
A gente sempre tem esperança de que a sociedade se transforme em um sistema mais justo. Entretanto, cá entre nós, essa é a mesma esperança que tínhamos na infância, quando aguardávamos ansiosamente pela chegada de Papai Noel. Como é que queremos uma sociedade mais justa e equilibrada se as regras que nós mesmos criamos dependem da injustiça e do desequilíbrio?
Desde cedo, todos somos ensinados sobre a importância de vencer, que essa é a forma de ter sucesso na vida e realizar-se plenamente. A questão é, justamente, o significado de vencer. Esta é uma palavra comparativa e que só faz sentido se houver perdedores. Vencer, ainda que com mérito e lisura, implica deixar todos os outros para trás, implica destacar-se do conjunto. Vencer só é entendido se for de forma completa e individual. Duas pessoas empatadas em primeiro lugar significa que não houve realmente um vencedor.
Por outro lado, ninguém é ensinado a perder. Perder é coisa de fracassado e, portanto, não é aceitável e, sendo mal tolerado, pede por revanche. Dá para perceber porque a sociedade não é sustentável? Se só pode haver um vencedor, o número de “perdedores” será sempre muito grande, o que significa que sempre haverá muito mais gente frustrada que realizada. Essa sociedade simplesmente não tem como ser equilibrada.
Quando falo sobre vencer, não me restrinjo ao âmbito esportivo, mas também ao aluno, ao profissional, ao artista etc. Tudo em nossa sociedade é voltado para a competição e não para a colaboração. Lembro de uma canção do Abba cujo título fala muito da mentalidade de nossa sociedade: The winner takes it all (O vencedor leva tudo).
Nesse sentido, lembrando também que todos os recursos materiais deste mundo são finitos, para alguém (o vencedor) ter muito de algo, sempre será necessário que muitos (os perdedores) tenham pouco dessa coisa. Ainda assim, ter muito de algo é considerado por nós como um sinal de sucesso, e não como um desequilíbrio do sistema.
Claro que não sou contra a relevância do mérito e do esforço. Não tenho nada contra a graduação baseada neste critérios. Considero, porém, que a existência de extremos jamais permitirá o equilíbrio do sistema, nem com a ajuda e boa vontade de Papai Noel!
Uma ótima semana a todos!