Bom dia pessoal!
Já que o Carnaval foi cancelado, vou aproveitar para encerrar hoje a lista dos episódios que considero mais relevantes na narrativa que Ulisses faz de suas aventuras. Se você não leu as seis primeiras partes deste estudo, é interessante ler a parte1, a parte2 , a parte 3, a parte4, a parte5 e a parte6 antes de continuar a ler esta postagem.
Hades – Seguindo então em sua jornada, Ulisses vai ao Hades, onde encontra diversas almas, inclusive a de sua mãe, que ele não sabia que havia falecido. Encontra também a alma de Tirésias, razão de sua ida a este lugar. Tirésias explica a Ulisses as causas de todas as dificuldades que ele encontra para regressar a seu lar.
Glorioso Ulisses, anseias pelo regresso doce como o mel, mas um deus torná-lo-á custoso, porque, segundo penso, o Sacudidor da terra não te deixará passar; seu coração está possuído de rancor contra ti, por teres cegado seu filho querido. Mas, a despeito de sua cólera, poderás ainda, à custa de inúmeras provações, chegar à pátria, se estiveres disposto a conter teu coração e o dos companheiros.
Aqui, então, Ulisses percebe que o Sacudidor da terra (Poseidon) está tentando vingar-se dele por este ter cegado seu filho, o ciclope Polifemo. Outras almas são ainda vistas como, por exemplo, Agamenon, Aquiles e Pátroclo. Encerrada a visita ao Hades, Ulisses retorna a ilha de Circe e esta lhe fala sobre os desafios que ele encontrará pela frente e o que deve fazer para ultrapassá-los.
Região das Sereias – Na mitologia grega, as sereias eram um híbrido de mulher e ave. Parando para pensar, faz mais sentido ver, no mar, rochedos povoados por aves que por peixes! A figura da sereia como uma mulher com cauda de peixe é bem mais recente (Idade Média).
As sereias da mitologia grega viviam em rochas e seu canto atraía os marinheiros, que encalhavam seus navios e viravam a refeição do dia. Para evitar que Ulisses tivesse o destino de tantos marinheiros, Circe explica como ele deve proceder para ouvir o canto das sereias e ainda assim evitar o desastre.
Chegarás, primeiro, à região das Sereias, cuja voz encanta todos os homens que delas se aproximam. Se alguém, sem dar por isso, delas se avizinha e as escuta, nunca mais sua mulher nem seus filhos pequeninos se reunirão em torno dele, pois que ficará cativo do canto harmonioso das Sereias. Residem elas num prado, em redor do qual se amontoam as ossadas de corpos em putrefação, cujas peles se vão ressequindo. Prossegue adiante, sem parar; com cera doce como mel amolecida tapa as orelhas de teus companheiros, para que nenhum deles possa ouvi-las. Tu, se quiseres, ouve-as; mas, que em tua nau ligeira te atem pés e mãos, estando tu direito, ao mastro, por meio de cordas para que te seja dado experimentar o prazer de ouvir a voz das Sereias.
Tudo se passa segundo as instruções de Circe e Ulisses e seus homens seguem viagem sem serem molestados pelas Sereias que, literalmente, ficam a ver navios.
Cila e Caribdes – Circe afirma a Ulisses que a navegação entre esses dois rochedos (personificados como deusas) só é possível aproximando-se de Cila e, ainda assim, haverá um preço em vidas humanas a ser pago. Se, ao contrário, ele se aproximar mais de Caribdes, perderá todos os seus companheiros e não apenas alguns. Bem, Ulisses segue as instruções de Circe, aproximando-se de Cila e perdendo seis de seus homens.
Navegávamos, pois, ao longo do estreito, lamentando-nos. De um lado acha-se Cila e, do outro, a famosa Carabdes que com terrível fragor engole a água salgada. Quando a vomita, todo o mar entra a agitar-se, efervescente, como a água de um caldeirão em cima de uma fogueira: a espuma jorra até o alto dos escolhos e recai sobre os mesmos. Depois, quando de novo engole a água salgada, vemo-la borbotar toda, na profundidade aparecendo por baixo o fundo de negra areia. Meus companheiros, de pavor, se tornaram lívidos.
Temerosos da morte, encarávamos Caribdes. Nesse momento, Cila arrebatou do côncavo da nau seis de meus homens, os melhores pela força de seus braços. Ao desviar a vista para a ligeira nau e para os companheiros, só distingui os pés e as mãos destes levantados no ar.
Ilha de Hélio – Passando por Cila e Caribdes, Ulisses chega à ilha de Trinácia, onde Circe lhe havia previnido que não matasse os rebanhos de Hélio, sendo melhor, para evitar a tentação, não se aproximar da ilha.
Chegarás, em seguida, à ilha de Trinácia onde pastam, em grande número, as vacas e as anafadas ovelhas de Hélio, sete manadas de vacas e sete belos rebanhos de ovelhas, cada um com cinquenta cabeças […] Se lhes não fizeres mal, e cuidares apenas do teu regresso, poderás ainda arribar a Ítaca, não sem primeiro sofrerdes provações; mas, se as maltratares, então prevejo a perda de tua nau e de teus homens; e, embora evites a morte, só tarde e em mísero estado voltarás a terra pátria após haver perdido todos os companheiros.
A intenção de Ulisses é a de passar ao largo da ilha, mas, seus homens, exaustos após a passagem pelos rochedos, querem parar na ilha para descansar e juram não tocar nos animais. Assim se faz, mas ocorre, porém que, devido a ventos contrários e incessantes, a nau de Ulisses fica presa na ilha por um mês e os alimentos dados por Circe são totalmente consumidos.
Enquanto meus companheiros dispunham de víveres e de tinto vinho, pouparam as vacas, pois desejavam salvar a vida. Quando, porém, as provisões de bordo se esgotaram, a necessidade os obrigou a irem caçar por aqui e por ali, tomando peixes, aves, tudo quanto lhes vinha à mão, servindo-se de recurvos anzóis, porque a fome lhes torturava o estômago.
Vencidos pela fome e aproveitando-se de que Ulisses havia ido ao interior da ilha para orar aos deuses, os companheiros cedem à tentação e matam vacas de Hélio. Passados alguns dias (o banquete levou seis dias) e com o cessar dos ventos contrários, a viagem continua. Entretanto, uma tempestade se forma e a nau de Ulisses é destruída, sendo ele o único sobrevivente.
Eu ia e vinha de uma a outra extremidade da nau, quando um golpe de mar desconjuntou as tábuas do cavername; a quilha desprendeu-se e foi arrastada pela vaga; o mastro soltou-se e foi quebrar-se de encontro à quilha. Mas ao mastro estava presa uma correia de antena; dela me servi para atar um ao outro o mastro à quilha, e sobre eles me sentei, deixando-me levar pelos ventos funestos.
Após alguns dias vagando pelo mar, Ulisses chega, sozinho e sem barco, à ilha Ogígia, habitada por Calipso.
Ilha Ogígia – Nesta ilha, Ulisses passará os últimos sete anos de sua Odisseia, na companhia da deusa Calipso, até que um concílio dos deuses decida que já é hora de permitir-se que ele siga viagem. Para isso, Calipso é instruída a fornecer a Ulisses uma jangada para que ele alcance a terra dos Féaces, onde poderá conseguir navio e tripulação para voltar para casa. Como vimos, Poseidon, que não estava neste concílio, ainda dificultará a vida de Ulisses, armando uma tempestade que o jogará da jangada ao mar. Ainda assim, ele consegue chegar ao rei Alcino, que lhe fornece os meios necessários para sua volta a Ítaca.
Como eu disse, essas foram algumas passagens que eu selecionei, mas que são um resumo razoável das aventuras de Ulisses desde sua partida de Troia até sua ida rumo à Ítaca. Sua chegada e como ele lida com os pretendentes de Penélope ficam para uma próxima postagem.
Tenham todos uma ótima semana!