Bom dia pessoal!

Vou dar hoje mais um passo na análise do livro Odisseia, de Homero. Se você não leu a primeira parte deste estudo, é interessante ler a parte1 antes de continuar a ler esta postagem.

Na maior parte do tempo, nós não temos uma consciência histórica, ou seja, não conseguimos nos por no tempo do fato analisado. A mesma coisa acontece com a análise literária. Sabemos que, originalmente, a Odisseia, de Homero, é um poema, mas não pensamos, por exemplo, na razão de ele ser um poema.

Não faz muito tempo que ler e escrever eram conhecimentos restritos a uma minúscula parte da população, assim como não faz tanto tempo que os texto escritos não eram impressos, mas registrados manualmente nos mais diversos materiais: papiros, pele de animais, pedra etc. A noção de livro certamente não era conhecida ou sequer imaginada por Homero (que, na verdade, sequer sabemos se realmente existiu).

Uma história como a Odisseia não era perpetuada através da escrita, mas através da oralidade. As histórias eram memorizadas para serem cantadas. Sim, a Odisseia chegou até nós porque sucessivas gerações memorizaram cada uma de suas linhas e a forma mais fácil de memorizar um texto é na forma de poema, que pode ser cantado. Essa era a função do aedo, que na Grécia antiga recitava os poemas ao som da lira.

Outra coisa que eu queria comentar sobre este livro é que se trata de um poema épico criado há vários séculos (talvez no século VIII a.C.), mas cuja estrutura é utilizada ainda hoje. Muitos dizem que a Odisseia parece ser um poema moderno, mas é justamente o contrário. Após a Idade Média, a Europa viveu o chamado Renascentismo e uma das característica desse movimento foi o classicismo, a idealização de valores e formas existentes no mundo clássico que, à época, era representado pela Grécia de Sócrates e Homero. Não é nenhuma coincidência o fato de Os Lusíadas, poema renascentista escrito por Camões, ter exatamente a mesma estrutura de Odisseia. Portanto, não é o poema de Homero que parece moderno, mas os poemas épicos modernos é que foram beber da fonte grega.

A Odisseia é, assim, um poema dividido em rapsódias (cantos) e começa no meio da história, fazendo a seguir um flashback para que este ponto seja alcançado e avançando até o final da história. Esse estilo tem o nome de in media res e é mais uma construção não coincidentemente utilizada em Os Lusíadas.

O ponto em que começa a Odisseia é chamado de Telemaquia (rapsódias I a IV) , mostra o que está acontecendo em Ítaca e tem Telêmaco (o filho recém nascido deixado por Ulisses quando de sua ida à Tróia e que, neste momento, já tem 20 anos) como figura central. Então, a Telemaquia será o tema de uma próxima postagem.

Tenham todos uma ótima semana!

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